terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Contos #1 Subconsciente





 Para começar com o pé direito, nada melhor que um conto desenvolvido por mim mesma.
           Então, vamos a ele.


                                                           -

 “As coisas nem sempre é o que parecem ser, o ser humano adora escutar a voz de sua mente, alimenta-la, e faze-la acontecer. Talvez por conformismo, ou até mesmo por medo de enfrentar a realidade.

                                                    A Origem


Em um dia comum, depois de uma rotina cansativa, havia dias que não sabia o que era sair pra me divertir, afinal, com quem me divertiria? Após a faculdade a única coisa que me restou foi livros, vídeo games e muita cerveja. Meus amigos? Jamais os reencontrei , talvez estejam viajando , trabalhando em suas rotinas cansativas tal como a minha, ou quem sabe, até mortos.
Resolvi sair, vagar por aí sem rumo, talvez encontrar umas prostitutas baratas, tinha umas notas de vinte no bolso, que as venho guardando pra algo especial , talvez um jantar com alguma garota que conheça em um ônibus, ou até mesmo no trabalho, ou talvez me enturmar com drogados sem nada a fazer e sentir uma brisa e voltar pra casa. O que eu queria mesmo era me divertir aquela noite.
Andei por alguns minutos incessantes observando a beleza da noite e a quietude das ruas vazias naquela hora, e confesso que depois de meia hora tive vontade de voltar para a casa e tirar uma soneca, mas, avistei um grupo de pessoas sentadas no meio do parque, com uma lanterna e um papel. Elas pareciam concentradas no que faziam, realmente passavam seriedade naquilo que via no papel. Resolvi me aproximar e tentar me enturmar, afinal não tinha nada a perder. Aproximei-me, eles estavam sentadas formando uma roda, todos de pernas cruzadas, uma garota apontava a lanterna para o papel, enquanto o silêncio era responsável por todas as palavras vazias que poderiam tirar a concentração naquele momento. Cheguei de supetão logo chamando a atenção da garota que estava com a lanterna.
-Não sei quem é você, mas, peço que não pergunte nada, apenas sente e observe – Disse a garota sem ao menos olhar em meu rosto -
Sentei e comecei a observar, o papel era de aparência velha, não conseguia entender muita coisa, aparentava ser um mapa, mas não um mapa comum, era como se mostrasse cada corredor de uma casa enorme, talvez a planta de uma casa. Tinha várias entradas que pareciam ser passagens secretas, no início achei que era uma brincadeira, afinal, um grupo de pessoas sentadas em um parque à noite observando um papel estranho como esse, fiz um movimento e comecei a me levantar, quando o garoto loiro da ponta olhou para mim e disse:
- Você não pode mais sair – Disse ele-
- Como não? Achei que vocês eram divertidos, só estou procurando diversão, mas vocês parecem um bando de pessoas estranhas. Estou fora!
- Não, você veio até aqui por algum motivo, talvez estivesse mesmo procurando diversão, mas, o que faz você pensar que isso não possa ser divertido? –Disse a garota da lanterna-
- O que é divertido pra você? Ficar sentada em um parque observando um pedaço de papel que parece não fazer sentido algum?
- O que é divertido pra você? Ficar vagando sem rumo atrás de algo que talvez nem possa encontrar? Você já viu demais, agora vai ter que continuar conosco. – Disse a garota-
- Ok, ao menos posso saber o seu nome?
- Sim, meu nome é Lancy , Prazer. – Disse ela estendendo a mão -
- Prazer, meu nome é Steve.
Estendi minha mão para ela, e por um instante senti algo de estranho, aquelas mãos frias e aquele olhar profundo... Não sabia ao certo o que ia acontecer, mas aquele grupo me intimidou bastante.


Sentei novamente, e continuamos a observar aquela folha, mas dessa vez, um deles se manifestou para dizer algo.
- Olha, acho que devemos começar agora, não vai adiantar analisar isto por muito tempo. Acredito que o que procuramos esteja bem perto, talvez em uma casa abandonada, ou em um lugar onde pareça tudo menos provável, essas coisas geralmente são assim. –Disse uma garota com o olhar otimista-
Me manifestei sem saber o que estava realmente acontecendo ou o que estavam procurando, e concordei com o que a garota dizia, afinal, o que mais poderia ser? Um mapa do tesouro? Nada mais tradicional para brincadeiras do tipo.
Depois de alguns minutos, o grupo se decidiu e começamos a “busca”.
Após horas vagando com o grupo, avistamos uma casa pequena, pelo menos era pequena na fachada, era do tipo antigo, maltratada, pintura velha, paredes descascando, um bom lugar para se assustar a noite com um grupo de malucos, então, tomei iniciativa novamente –afinal já estava empolgado com aquela brincadeira- e sugeri que entrássemos lá. Para a minha surpresa o grupo concordou, e caminhamos até a casa. Quando chegamos mais perto, vimos que o portão era totalmente enferrujado e que não seria tão fácil de abrir, pois estava trancado. Lency parou em frente ao grupo e decidiu nos apresentar.
- Bom, estamos aqui, talvez esse seja o lugar, como disse a Emma , um lugar menos provável, não sabemos o que vamos encontrar lá dentro a partir de agora, então, sugiro que nos apresentemos antes que algo aconteça e perdemos essa oportunidade.
Olhei para Lancy sem entender e logo disse:
- Espera aí, deixa eu ver se entendi, está me dizendo que vocês não se conhecem? Por qual motivo então estavam sentados à noite em uma praça observando um mapa sem ao menos se conhecer?
Lancy me olhou com um sorriso no rosto e logo disse:
- Acredito que você nunca tenha ouvido falar em destino não é mesmo?
- Sim, já ouvi, mas acredito que a palavra melhor para ser usada aqui é loucura!
Lancy se aproximou de mim, olhando em meus olhos:
- Steve, eu estava sentada na praça com a lanterna, por uma loucura se aproximou de mim a Emma, o Tom, a Alice e você. Todos ao me ouvir dizer para não fazer perguntas e se sentar, sentaram. Todos eles observaram aquele mapa por horas antes de você chegar, e agora estamos aqui.
- Não é possível, eu só continuei levando isso a diante, por pura curiosidade, diversão.
- Eles também, curiosidade, diversão. Se você não quisesse estar aqui realmente, teria se levantado e ido embora àquela hora.
- Vocês pediram para eu ficar.
- Exatamente, pedimos. A escolha de ficar foi sua.
- Quer saber, eu vou pra casa. Vocês são malucos.
- Isso abandone o que começou. O nome disso é medo.
- Realmente, medo de vocês!
- Tudo bem, vá embora.
Sai daquele lugar o mais rápido que pude e voltei para a casa. Como de costume, joguei as chaves na mesinha, peguei uma cerveja, sentei na frente da televisão e comecei a jogar. Enquanto jogava, vinham milhares de vezes em minha mente as palavras de Lancy “Acredito que você nunca tenha ouvido falar em destino não é mesmo?” E junto à voz dela, a imagem daquela casa esquisita, das entradas daquele mapa, do silêncio ensurdecedor da noite. Decidi tomar um banho e tentar esquecer tudo. Simplesmente fingir que tinha sido somente uma alucinação ou algo vago que não faria diferença em minha rotinha cansativa. Tomei um banho gelado, e me deitei no sofá. Em poucos minutos já estava sonolento. Mas, como era de se esperar, não conseguia parar de pensar naquele grupo.
Resolvi me levantar, e ir até aquele local novamente. Estava frio, coloquei um casaco e sai às pressas para a praça. Chegando lá, não havia mais ninguém, Nem Lancy, nem Emma, nem Tom e nem Alice. Continuei andando até chegar à casa esquisita novamente, a única coisa que encontrei, foi o portão entreaberto. Chamei por Lancy e só o que ouvia, era minha voz ecoando por aquele lugar. Entrei na casa, estava tudo escuro, mal podia enxergar as paredes, não havia velas, lanternas, nem fósforos por perto para que eu pudesse iluminar aquele local. Por fora aquela casa parecia pequena, mas ao entrar, parecia uma mansão com várias portas, até masmorras se quiser assim imaginar.
Estava escuro, mas aparentemente, seria uma sala, onde tinha uma escrivaninha e um bilhete: “Éramos 5, mas um não cumpriu o seu destino, talvez por medo... mas eu sabia que deveria continuar, nada é por acaso.”
Obviamente, aquilo era pra mim. Quis sair dali correndo, o mais rápido que eu pudesse, e já ia o fazendo, quando uma voz ecoou em minha mente:
- “você vai abandonar mais uma vez o seu destino? Vai desistir? Foi pra isso que decidiu sair de casa novamente? Dessa vez não!”
E luzes vermelhas se ascenderam ao redor da sala, apagando brevemente e iluminando só uma porta, a porta onde prosseguia outros cômodos as casa.
Senti um frio passando pelo meu corpo, uma adrenalina ativando meu sistema nervoso, o coração batendo mais rápido a cada minuto, e um sentimento de culpa, imaginando o que pudera ter acontecido com aquelas pessoas. Aproximei-me da porta e a abri com facilidade, o que estivera ali, queria que eu entrasse e que eu me aproximasse. Foi então que luzes se ascenderam, tal como quando morresse e chegasse ao céu com aquela luz branca, quase me cegando. Quando elas abaixaram, vi o que temia.

                                                             Caminhos do medo.



Sempre tive em mente que medo era algo psicológico, um tipo de manipulação da mente, algo que pudesse te enlouquecer, ou talvez te mostrar a realidade e te libertar. Mas ali, de frente àquela sala, tive uma mudança drástica de opinião.
Quanto mais olhava para aquilo, mais eu sentia calafrios. Era algo inexplicável, nada conseguia passar pela minha cabeça a não ser “ninguém deve estar vivo”. Estava apavorado, também pudera, em uma noite qualquer depois de meses sem sair, você resolver espairecer e encontrar esse pesadelo...
Uma boneca, idêntica a da minha filha que morrera há dois anos. Tinha a presenteado no seu aniversário de quatro anos, tinha sido barato, mas o valor sentimental era incalculável. Lembro ainda do sorriso dela ao receber e ir me abraçando e dizendo que me amava, ela tinha gostado tanto... Se não fosse a maldita doença que lhe pegou de surpresa... Ainda sinto sua falta, como se fosse ontem , ainda lembro de seu nascimento, se não bastasse a morte de minha mulher no parto, 4 anos depois um câncer, essa maldita doença que levara minha filha sem piedade, acredito que Deus não goste muito do que criou, eu.
Quando entrei na casa, juro que achei que seria somente uma coisa que me passaria medo e vontade de sair correndo, mas vi aquilo, foi uma tortura, um pesadelo. Lembrar da minha Maggie... Sentei por alguns minutos e observei a boneca para ver se era realmente real, minha vontade era de ir até lá e a pegar, mas quando ia me aproximando, tudo ficou escuro. Uma luz vermelha apareceu iluminando uma porta que não tinha reparado estar ali antes...
 Como não tinha nada a fazer a não ser entrar, enxuguei as lágrimas, recuperei minha força, me levantei e me dirigi à porta.
Enquanto me dirigia a porta, pensei comigo mesmo: “ porque , porque a boneca?”
Mas, ao abri-la, essa pergunta já não tinha importância alguma, Alice estava no chão, aparentemente desmaiada de bruços iluminada por uma luz específica. Aproximei-me, com receio, e a toquei. Ela estava fria, dura, e com um aspecto arroxado, levantei um de seus braços e vi algo parecido com sangue vindo de baixo de sua camiseta, me espantei, mas virei-a rapidamente. Ela estava com várias facadas na área da barriga e do peito, e sua garganta tinha hematomas, como se alguém tentasse a enforcar. Fiquei pasmo ao ver aquilo, mas segurei a emoção. A baixo da camiseta, percebi um pedaço de papel, puxei mesmo sujo de sangue, e nele estava escrito:
“Se você não mata seu medo, ele mata você!”
Não sabia o que estava sentindo, só imaginava o porque de tudo aquilo. Será que seria um assassino querendo fazer um joguinho? Mas, como ele saberia da boneca da minha filha? E porque faria isso? Á essa altura eu estava completamente confuso sem saber no que pensar. Passei mais de horas naquela sala com o cadáver de Alice, a única luz era a que iluminava o corpo dela, tentei levantar e procurar algo naquela sala, mas era inútil a tentativa, não conseguia enxergar nada, nem mesmo minhas mãos. Então, sentei ao lado dela, e rezei por sua alma. O tempo passava e eu me sentia já enjoado e ver aquela poça de sangue saindo de Alice, as moscas estavam se aproximando, e o corpo já cheirando mal, estava inquieto, cansado, com fome, e querendo sair de lá. Tentei recuar e ver se achava a porta por onde entrei, mas foi inútil, era como se ela tivesse desaparecido, como se eu entrasse e ela sumisse, algo como nos jogos em que jogava em casa. Será isso uma fase da minha vida em que eu tenha que passar por uma aprovação e morrer várias vezes com dores do passado para ser livre no final? Ou será que terei o mesmo destino de Alice? Na verdade, a única coisa que eu queria, era sair daquela sala o mais rápido possível.
Algumas horas se passaram, e outra vez a sala ascendeu com a luz branca, mas dessa vez, ela não ficou acesa por muito tempo, ela apagou rapidamente, e quando ascendeu novamente, o corpo de Alice não estava mais ali! Foi questão de minutos, não deu tempo nem de ouvir o corpo ser arrastado, passos, alguma porta se abrindo... Nada! Foi realmente surreal o que acontecera à poucos minutos. Depois, a luz vermelha novamente iluminando a porta. Dessa vez eu não queria entrar, não queria nem saber o que esperava lá, não queria mais saber desse jogo, se fosse realmente o destino como Lancy dissera, porque o destino queria que eu passasse por isso? Já não sofri o bastante perdendo minha família e sendo solitário? Acho que se o destino tivesse corpo e alma, diria que não.
                                                               O jogo começou.

Pensar geralmente faz você chegar á uma conclusão lógica, mas diante disso tudo que acontecera, parece que não existe uma resposta lógica. Olhei novamente para a porta iluminada com a luz vermelha, me dirigi á ela, e me senti mal, talvez seria por estar horas ao lado de um cadáver entrando em decomposição, ou talvez por medo.
Cheguei até a porta, entrei, e fiquei observando se ela iria sumir igual a outra, nada acontecera, então me virei e tentei enxergar algo. Mas parecia não ter nada ali, estava tudo muito escuro. Olhei para trás e a porta ainda estava ali, tentei a abrir, mas estava trancada, como pode? Não ouvi nenhuma chave rodando a fechadura. Bom, acho que isso não tinha tanta importância, já que aquele mistério e suspense estava me consumindo por dentro. Sentei pois estava exausto, depois de um dia de trabalho, cansativo, uma noite sem dormir, acreditei que já seria de manhã, mas não importava a hora, queria sair daquele lugar. Passei um tempo sentado, depois acabei deitando e caindo no sono. Tive um sonho estranho, sonhei que estava abraçando minha mulher e filha, estávamos em uma festa com todos meus amigos da faculdade, todos felizes. Quando acordei com uma voz, suave como de uma criança, não sabia o que dizia, somente a ouvi. Quando abri o olho, vi que uma luz iluminava um guarda roupa, ele era de madeira, velho, com um cheiro de casa de avó, me aproximei e o abri. Dentro, estava o vestido de casamento que minha mulher usara, e a primeira roupa de Maggie, não acreditei no que meus olhos estavam vendo, comecei a chorar, e gritar:
- Quem quer que esteja fazendo isso, pare! Por favor. Não posso suportar.
Enquanto gritava, e chorava, vi um brinquedinho de corda saindo do fundo do guarda roupa com uma garrafinha nas mãos, dentro dela havia um pedaço de papel.
Apanhei o boneco e a garrafinha, abri-la e vi que não era um papel, era um pedaço de pergaminho. Nunca tinha visto um pergaminho de perto, era tão antigo... O abri, e nele havia escrito de sangue: “Querido, sinto sua falta, mas você precisa seguir sua vida, não pode continuar privando sua vida por causa do passado... Não posso escrever muito, mas Maggie está sentindo sua falta, ela te ama demais. E me desculpe, não achei tinta, tive que matar Alice”.
Quando terminei de ler, não acreditava. Eu estava alucinado, não podia ser real, Lucia era tão doce e delicada, como poderia matar uma pessoa? Mas, ela estava morta! Á mais de 4 anos. Não era possível. Enxuguei as lágrimas, peguei as roupas, ainda dava pra senti o cheiro das duas. Passou tantas coisas em minha cabeça. Momentos felizes, tristes, era realmente um flash back passando em minha mente. Guardei o pergaminho no bolso, e respirei fundo, fechei os olhos e comecei a dizer para mim mesmo:
- Isso é só um sonho, vou acordar e nada disso terá acontecido, por favor, diga que é um sonho.
Mas quando reabri os olhos, vi que não era um sonho, precisava acreditar que era real, que tudo estava acontecendo novamente.
 Ouvi uma voz dizendo algo, mas parecia estar distante, não conseguia distinguir o que ela dizia. Após alguns minutos, ela voltara, e dizia suavemente:
- Você!
- Quem é você? Quem é você? –Disse com medo.
- Porque está aqui? –Disse a voz.
- Destino.
- Ah, acredita em destino? E se eu disser que não existe destino? Existe coincidências?
- Porque está fazendo isso? Eu te conheço?
- Não quer saber o porquê está aqui? Para que quer se preocupar com quem sou eu?
- Filho da puta! Tira-me daqui, chega de me torturar. Tire aquelas pessoas inocentes daqui.
- Olha, se eu estivesse no seu lugar, teria mais respeito. Bom, vi que você não está a fim de papo, que pena, prossiga pra próxima porta, e descubra vocês mesmo!
- NÃO! Volte aqui, não faça isso comigo, não quero mais entrar em porta nenhuma!
- Eu tentei conversar, HAHAHA. Boa sorte!
- NÃO!NÃO!NÃO! volte , por favor. Desculpe, por favor!
Por mais que eu pedisse, nada acontecia, tinha sumido. Dessa vez, a porta não estava iluminada por uma luz vermelha, estava aberta, mas não dava para enxergar o que tinha lá. Então, novamente fui até a porta e entrei. Ela bateu como se alguém tivesse empurrado pelo lado de dentro, mas só eu estava do lado de dentro...
Aquilo estava me deixando nervoso, estava determinado a matar quem quer que seja que estivesse ali, não queria saber de mais nada.
Uma lanterna rolou até meu pé, com uma luz fraca ainda, peguei-a e iluminei a sala, desta vez ela parecia imensa, sem fim.
Não havia portas, a não ser pela que eu tinha entrado. Continuei iluminando a sala, e no canto percebi que tinha fotos... Aquele garoto, o conhecia de algum lugar, A primeira começava na porta onde eu tinha entrado, era de um garoto, aparentemente feliz, segurando bexigas... A segunda era em uma escola, estava com colegas. A terceira era ele no ensino médio, se formando. A quarta, era no emprego, parecia ser o primeiro, estava escrito “first”. A quinta era beijando uma garota, acho que era namorada, ou esposa. A sexta era ele com dois bebes, aparentemente gêmeos. A sétima era ele com a garota, e os dois filhos, é, eles eram gêmeos. A Oitava, era dele em uma festa. A nona era dele em uma sala escura, olhos vermelhos atrás dele, acho que era bem aqui nesta sala. A décima estava ao lado de um corpo, quando olhei era Tom. Estava com as mesmas roupas de quando me encontrara no parque, estava com os olhos saltados, a língua pra fora. Não sei explicar de que modo ele poderia ter morrido. Peguei a foto que estava nas mãos dele, e olhei. Quando vi, fiquei espantado. Não era possível, neste momento estava realmente com medo. A décima foto, era eu sentado olhando uma foto ao lado do corpo do Tom. Como pode?  Disse em voz alta:
- Seja você quem for, pare de brincar, você está acabando com vidas inocentes, sem nenhum motivo!
E para minha surpresa a voz respondeu:
- Vidas inocentes? Pode até ser, mas, de que adianta estarem vivos se suas vidas são vazias? Eles não viviam, apenas existiam.
- O que eles são, ou fazem da vida, não é desrespeito a você. Você não tem esse direito, só quem pode tirar uma vida é Deus.
- Deus? Que mal ele não? Tirando vidas que ele mesmo deu. Acredito que se ele tem esse direito, eu também tenho.
- Não você não tem, me tira daqui!
- Não quer saber como está Lancy e Emma? Como você é egoísta não é mesmo? Viu que elas também entraram e depois de ver Alice e Tom mortos quer sair sem ao menos tentar ajuda-las? Que coisa feia...
- Porque está fazendo isso? Não sou egoísta, só não pedi para que entrassem. Quero sair!
- Não? Certeza?
Depois dessas palavras, recordei de que tinha sido minha a ideia de entrar na casa. Fiquei em silêncio por alguns segundos.
- HAHAHA. Está vendo, você os colocou neste jogo, é hora de seguir o seu, eles seguiram o dele. –Disse a voz como se achasse graça em tudo aquilo.
- Você vai se arrepender disso, guarde minhas palavras!
A voz sumira novamente, e eu estava sozinho, com o corpo de Tom, levantei e usando a lanterna, iluminei o caminho dali para frente. Estava exausto!



                                                  Recomeço.

Completamente sem forças –tanto pra me defender quanto para continuar- Prossegui com a lanterna iluminando a extensa sala, quanto mais me aproximava, mais ela parecia ficar longa. Até que percebi um ponto no chão e o encarei por uns segundos. O ponto me chamou a atenção por parecer sido feito por alguma criança que começara a desenhar recentemente, mas, logo voltei ao foco que era achar uma saída, ou entrada. Quando olhei, avistei três portas, parecia estar escrito alguma coisa nelas, fui me aproximando e realmente estava. Na primeira porta estava o nome de Lancy, na segunda tinha o nome de Emma, e a terceira, saída. Me aproximei e pensei: “Se eu sair, tenho certeza que vou morrer. Acho que tenho que escolher uma para salvar, mas, deixaria a outra morrer? Ou será um blefe? Oh meu Deus, Não sei o que fazer. Me ajude por favor!”
Parecia que eu tinha escolhas a fazer... Mas, o que fazer?
Sentei e apoiei meus cotovelos no chão, com as mãos na cabeça, estava enlouquecendo, acredito que a morte seria menos dolorosa do que aquilo que eu estava sentindo naquela hora. Por mais alguns minutos, passei pensando em absolutamente nada. Era como se tivessem apagado minha mente, um branco restava ali, e aquele vazio estava parecendo uma tortura, uma tortura psicológica, será que essa coisa consegue também controlar seus pensamentos? Oh Deus, no que eu estou pensando, isso não existe, ninguém pode ler mentes!
Ouvi passos, passos suaves como de dançarina, se aproximava a cada minuto, senti um frio na barriga um receio de olhar para trás, mas criei coragem e olhei, quando vi era um copo de água, rapidamente o bebi, pois estava sedento. Enquanto bebia, ouvi a voz novamente:
- Muito bem, viu não sou tão mal assim não é mesmo?
Engoli a água e não pronunciei nenhuma palavra.
- Bom, você tem duas vidas em suas mãos, você pode escolher salvar as duas, uma delas, ou morrer junto com as duas.
- Como assim?
- Sua vida, é tão vazia quanto à delas, na verdade, é tão vazia e sem alma quanto a de todos que estavam aqui.
- E daí?
- E daí, que você tem a chance de mudar isso. Quer algo em sua vida? Quer algo para se orgulhar? Então salve as duas vidas.
- Como eu posso salva-las?
- Isso, você irá descobrir.
 Um papel caiu de cima, e quando olhei para cima, vi um preto, algo como um “buraco negro”.
Quando peguei o papel, nele dizia escrito com tinta:
“Na vida fazemos sacrifícios, seja para ser feliz ou para se orgulhar disso mais para frente, dando é que recebemos, plantando é que colhemos, e dependendo de nossas escolhas, nossos destinos são cruzados e algo mágico acontece, sendo bom ou mal. Você está aqui por algum motivo, não negue, não existe coincidência, tudo acontece porque você faz, destino? É uma desculpa do ser humano para explicar as atitudes que tomam que fazem acontecer as coisas. Deus? Outra desculpa, conformismo e refúgio do ser humano. Acredite em si, faça a coisa certa!”
Li aquilo com um pensamento positivo, mas logo vi que era tão doentio quanto as coisas que já passara anteriormente. Analisei por horas o papel, e depois de uns minutos, relembrei das palavras da voz suave... “Suas vidas vazias”.
Por anos passei dedicando minha vida ao trabalho e ao lazer rotineiro, não visitei mais meus amigos, me tranquei em um mundo onde era confortável, mas esqueci de viver, esqueci de que eu poderia ter uma família novamente, esqueci que tinha pais... Até que eles morreram e nem tive coragem de aparecer em seus enterros, não tinha coragem de ir ao mercado, pedia entregas por internet, será que isso serviu para me mostrar que eu preciso viver? Ou será que é tarde demais para eu começar a viver? Na verdade, eu perdi a vontade de viver, acho que se depois que saísse daqui, iria me isolar para sempre, mais ainda... Acho que eu realmente merecia morrer, e matar essa angústia incessante dentro de mim.
Respirei fundo e disse:
- Eu ofereço minha vida, minha alma vazia para salvar Emma e Lancy.
A luz ascendeu e as portas com o nome Emma e Lancy se abriram.
Ambas estavam desmaiadas e amarradas, me aproximei e tirei as duas daquela prisão, e puxei-as para a luz, onde poderia desamarra-las.
Quando desamarrei, as duas abriram os olhos:
- O que está acontecendo? –Disse Lancy.
- Emma, Lancy, não devo ter muito tempo, mas queria dizer, que a partir de agora vocês precisam fazer alguma coisa para mudar suas vidas, não podem mais fazer o que eu fazia, apenas existir. Dei minha vida por vocês, e acredito que agora me resta minutos neste mundo. Me desculpe, por ter abandonado vocês, desculpe por ter sido responsável pela morte de Alice e Tom, desculpe.
Emma e Lancy  olharam e lembraram de tudo rapidamente e entregaram o papel que observaram por horas no parque para ele.
- Esse mapa, na verdade não é uma planta de uma casa, nem realmente é um mapa, ele é uma linha do tempo, da vida de alguém... Acredito que seja sua. Dê uma olhada.
Olhei para o papel, não contive a emoção, agora tudo fazia sentido. Meu destino no papel, minha vida, tudo o que eu fiz se eu não tivesse me trancado. Eu era feliz... Lá dizia, que tive outra família, Mulher, Lancy. Filha, Emma.
Vi um paralelo de minha vida se indo abraçou-as e disse:
- Eu amo vocês! Mas dessa vez, vocês viverão e serão felizes. Dessa vez, é o papai que vigiará vocês do céu.
Emma e Lancy se emocionaram, e choravam sem parar.
- Se somos sua família em uma possível escolha paralela de sua vida, o que Tom e Alice eram?
Steve observou o papel, e viu os nomes de Alice e Tom sendo substituídos por, Danny e Jonathan, nomes de seus pais falecidos.
- Eram meus pais. –Disse Steve.
A voz voltou novamente e disse:
- Sinto muito Steve, mas você fez sua escolha. Salvou as duas, mas não poderá viver com elas. Sua hora chegou!
Steve não teve nem tempo de se despedir, e sentiu como se sua alma saísse de seu corpo, e a escuridão da morte invadisse sua vista. Estava morto!

Lancy acordou no hospital, não sabia o que havia acontecido. Segurava sua filha Emma recém nascida nos braços, esperando a visita do pai, Steve. Ela lembrara da casa, de tudo, mas, tinha sido apenas um sonho. Alguns minutos após despertar, recebe a visita de um policial, confirmando a morte de Steve. Ele tinha se suicidado, sem motivos, sem justificativas, sem absolutamente nada. Lancy chorava desesperadamente, enquanto ouvia o policial e pensava: “Porque? Logo quando nossa filha nascera, não é possível!”
Sua mãe entra na sala, e abraça Lancy.
- Mamãe, o que eu faço? –Disse Lancy.
- Siga em frente minha filha, você tem uma filha linda, e o resto da vida pela frente. Sei que não é o melhor a se dizer, mas é melhor superar agora, do que viver com a angústia confortante.
Lancy olhou de relance para a mãe e disse:
- Cuide bem de Emma. E fechou os olhos, espontaneamente como se fosse os abrir novamente.  Mas não foi o que acontecera.
Lancy tinha tido um parto conturbado, e sabia que não iria viver para cuidar de Emma, e se preocupava, depois da notícia de que Steve morrerá, não tinha mais ninguém para cuidar de Emma.
Emma chorou no colo de sua mãe falecida, e Louren –Mãe de Lancy- a pegou nos braços.
- Ei pequena Emma, você é uma garota especial, vou cuidar de você. Você será orgulho de seu pai e sua mãe. Tenha certeza disso.
25 anos se passaram e Emma tinha crescido como uma garota normal, concluído a escola, construído uma família, e mesmo nunca conhecendo seus pais por motivos ocultos durante toda sua vida, era uma garota feliz. Mesmo com um aspecto de mulher madura e adulta jamais 
deixou de ter os passos suaves de uma bailarina e a voz suave de uma eterna criança.

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